Uma escola de verdade, só que
de brincadeiras. Uma casa de brincar. Uma casa de aprender. Uma casa para
desenvolver habilidades e talentos. Um refúgio. Uma salvação? Uma casa que é
palco para a transformação de milhares de crianças e adolescentes. A Casa de
Ensaio completa 28 anos promovendo um trabalho artístico, pedagógico e social
relevante e singular em nossa comunidade.
“Sempre falo que ninguém
transforma ninguém, é a pessoa que se transforma, a pessoa que quer se
transformar e, a arte faz isso, ela tem um desafio transformador. Ao longo do
tempo fui percebendo que quanto mais linguagens artísticas a gente colocasse
para os alunos da Casa de Ensaio melhor seria o encontro dessa transformação
com a pessoa, porque algumas pessoas gostam de cantar, outras de dançar, de
interpretar, e aí fui juntando tudo isso, que era uma coisa que eu pensava
desde criança. E, assim, as coisas foram acontecendo, fui montando a pedagogia
das artes emendadas, com foco na arte transformação social para crianças e
adolescentes”, conta Laís Dória, presidente da Casa de Ensaio, que fundou a
organização social ao lado do esposo Artur Monteiro de Barros.
De mãos dadas, sonhando o
mesmo sonho, Laís e Artur criaram a Casa de Ensaio em 1996, com a missão de
criar condições e oportunidades para que crianças, jovens e adultos possam
desenvolver plenamente o seu potencial como pessoas e cidadãos utilizando
programas culturais, sociais, educacionais e ambientais.
E como a Casa tem sido viva,
pulsante, nestes 28 anos. Em todos esses anos a Casa foi palco para 18 peças
teatrais, contando com a participação de cerca de 5 mil alunos. As produções da
organização foram exibidas para aproximadamente 50 mil pessoas (das quais,
muitas tiveram a oportunidade de ir ao teatro pela primeira vez!). Anualmente,
cerca de 70 alunos (de dezenas de bairros diferentes da capital) são atendidos
pela Casa de Ensaio, por meio do programa de arte transformação ´Brincaturas
& Teatrices´. Além disso, a Casa já produziu mais de 50 ações, entre
Festivais, shows, espetáculos, entre outros.
´Que
a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza
em nós´, Manoel de Barros
A artista, pedagoga e
professora de capoeira Giulia Scröder entrou na Casa em 2010, quando estava
saindo da infância e entrando na pré-adolescência. Para ela, ter participado da
Casa foi algo que transformou por completo a sua ´experiência humana´.
Primeiramente por ter tido a oportunidade de voltar a brincar no momento em que
toda sociedade já lhe forçava a crescer, lá ela poderia botar o pé no chão,
poderia brincar. E, em segundo ponto, foi na Casa que ela pôde entender
verdadeiramente a relevância da arte na formação integral do ser humano.
“Conforme fui crescendo dentro
da Casa consegui canalizar as minhas dores e os meus traumas por meio das
experiências artísticas do palco de experiências; das aulas de literatura, de
música, de cinema, de dança, de jogos teatrais; das brincadeiras, das contações
de histórias, então foi um contato com a minha própria expressividade,
desenvolvendo as minhas habilidades físicas e cognitivas. E, também, um contato
com um conteúdo emocional que, eu como criança que tinha vivenciado a violência
na infância, precisava trabalhar, precisava canalizar, então a Casa foi o meu refúgio
também. Sou muito grata por fazer parte da história da Casa e por essa história
fazer parte de mim e de milhares de crianças e jovens”, realça.
Eduardo Alcântara também traz
a Casa de Ensaio no coração. Sua estadia por lá foi um pouco mais longa: ele
entrou em 2002 aos 11 anos de idade e, por lá, foi aluno por 6 anos e educador
por 7 anos (totalizando 13 anos!). Ele descreve que tinha vontade de ser
artista, porém na época sua família não tinha condições financeiras para
investir em um curso na área. Foi quando ele viu em um Jornal que a Casa estava
com inscrições abertas.
“Foram os melhores anos da
minha vida, só quem viveu, quem vive esse processo da Casa, sabe o quanto é
importante na nossa transformação pessoal e artística. Eu era uma criança
tímida, não andava de ônibus, tinha medo... E a Casa trabalha muitos valores como
a generosidade, o olhar ao próximo, da gente ter coragem no desafiar e, tudo
isso, num ambiente seguro e acolhedor. Sempre tínhamos excelentes oficinas
artísticas, contato com profissionais renomados de diferentes áreas, aprendi
muito lá. E todo esse processo impacta no que sou hoje, no meu trabalho, hoje
sou educador, professor da rede pública e também tenho um trabalho artístico
voltado para bebês e crianças. Tudo que eu vivi na Casa eu carrego comigo, a
Casa vai fazer parte da minha vida para sempre!”, completa.
“Brincar, brincar e brincar,
sempre! Deixar a criança que dorme em você sempre acordada para não perdermos a
alegria de viver! A arte existe para trazer mais leveza a dureza da vida: vamos
brincar para sobrevivermos! E a Casa de Ensaio faz isso: brinca! Minha neta,
Bibi, quando era pequena, tinha 8 anos (hoje ela tem 28 anos, a idade da Casa!)
me disse: ´Vovó eu já entendi o que é a Casa: uma escola de verdade só que de
brincadeiras!´. E é isso mesmo; uma escola que alimenta nossa alma e nosso
coração principalmente hoje em tempos de guerras!”, finaliza Laís Dória.