No dia 16 de janeiro, a Fundação Manoel de Barros (FMB) apresenta às 17h, o Especial Uniderp FM com a banda Legião Urbana.
A história da Legião Urbana
Renato Russo gostava de uma história. Gostava de contá-las, de pintar a vida através de narrativas. Sua especialidade eram as canções. Ele sabia que a todo instante o nosso futuro recomeça e, assim, as histórias, quando são boas, nunca têm um fim. A Legião Urbana é uma delas. Uma história que precisou de dois amigos fiéis para ser escrita a seis mãos: Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. Como as grandes histórias podem ser contadas de diversas formas, dependendo de quem as conta, a da Legião Urbana também.
Vindos de uma juventude punk forjada sob o olhar da classe média de Brasília, centro do poder no período militar, um grupo de amigos, conhecidos como a Turma da Colina, tinha muito para dizer. Cultos, com formação em bons colégios, viajados, eles foram se encantar logo pela anarquia punk. A Legião Urbana surgiu nesse cenário, na seqüência de dois projetos musicais cujos nomes eram tão opostos quantos complementares: Aborto Elétrico e Trovador Solitário. Em comum entre eles, a figura de Renato Russo, cuja personalidade poderia ser deduzida a partir destas personas artísticas que ele havia criado e batizado. Da Turma da Colina, se juntaram a ele Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos. Com o trio, o núcleo criativo se constituiu e daí uma nova história começa para os três.
“Química” era um dos hinos do Aborto Elétrico e foi a primeira canção daquela turma a ser gravada em fonograma e lançada em LP e K7 por todo o país. A responsabilidade disso foi de “amigos que estavam lá no Rio”, os Paralamas do Sucesso. Naquele momento, os ouvidos do Sul descobriam um novo jeito de se escrever letras e de se cantar. Esse novo modo vinha acompanhado de assinatura: Renato Russo. Não tardou para que Jorge Davidson quisesse lançar também aquela nova jóia. Logo em seguida, eram eles, Renato, Dado e Marcelo, que estavam de mudança para o Rio. Contrato assinado, chance de gravar um disco e a tal história começa a não ser só dos três, mas de uma geração inteira.
A obra da Legião Urbana circulava pelas fronteiras entre a ética pública e a ética privada, como definiu Arthur Dapieve no livro “Renato Russo, o Trovador Solitário”. Seja na condução do país, da coisa pública, dos meios de comunicação ou na sinceridade e respeito aos sentimentos individuais, era preciso disciplina, compaixão, bondade e coragem. Neste disco, lançado em 1989, essas esferas da vida de todo cidadão eram rediscutidas. Juntando Camões com a filosofia de textos bíblicos e budistas, a poesia de Renato chegava ao auge da forma e se tornava ainda mais precisa sobre os problemas do seu tempo.
Em V, Renato voltava a fazer uso das figuras medievais e românticas, agora com mais ênfase, para tratar da tal esfera pública e se aproximava mais da simplicidade, delicadeza e despretensão ao falar das relações pessoais. A saída da falta de perspectivas para o cenário do país estava numa melhor condução das relações cotidianas. Bonfá e Dado também passavam por um processo criativo rico e as músicas da Legião ganhavam novas formas e dinâmicas. Os arranjos eram mais complexos e novos instrumentos apareciam. Antes da gravação deste disco, Renato se descobrira infectado pelo vírus HIV.
Em grande parte das letras de O Descobrimento do Brasil, Renato tem uma perspectiva muito pessoal, sobre uma série de idealizações. Novamente, elas eram ligadas ao imaginário de uma vida mais simples e comum. Dado e Bonfá lhe ofereciam algumas das melhores músicas que já haviam feito, como “Love in the afternoon” e “Giz”. A turnê daquele disco, que seria a última do grupo, também foi interrompida por incidentes em uma das apresentações. Em janeiro de 1995, em Santos, depois de ser atingido por um objeto atirado pela platéia, Renato levou o show deitado por mais 45 minutos até encerrá-lo. A Legião Urbana deu um tempo novamente.
Na seqüência, Renato cuidou de sua carreira solo e lançou dois discos, “The Stonewall Celebration Concert” e “Equilíbrio Distante”. A banda voltaria a se reunir um ano depois do episódio em Santos para gravar um novo disco. Tanto tempo sem trabalharem juntos lhes rendeu muito material original. Devido ao agravamento de sua doença, Renato estava frágil e não podia passar muito tempo nas gravações. O assunto era tratado com muito respeito e restrições pelos poucos que sabiam do que se passava com o vocalista. Por isso, poucas pessoas foram autorizadas a entrar no estúdio. Desta forma, Dado Villa-Lobos comandou a produção do álbum e assinou junto com o grupo. A Tempestade ou O Livro dos Dias foi lançado em setembro de 1996. Musicalmente, Dado, Bonfá e Renato tinham um disco mais rock’n roll nas mãos. Renato tinha solidão em sua pena. Quando “A Via Láctea” tocou nas rádios, um alarme soava no ouvido dos fãs: Renato parecia se despedir. Um mês após o lançamento, ele faleceu em seu apartamento. Uma semana após sua morte, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá anunciaram o fim das atividades da banda, mas anteciparam que outros lançamentos de materiais previamente produzidos aconteceriam.